Google+ SUPER MATEMÁTICA - PROF. UJEVERSON: agosto 2011

29/08/2011

Ser professora é adoecer

> O Globo, 29/08/2011 - Rio de Janeiro RJ
Ser professora é adoecer
Luisa Carla do Amaral Teixeira Nehme
Sou professora de inglês e tenho uma matrícula na Secretaria de Educação do Município do Rio de Janeiro. Cumpro uma carga horária semanal de 16 horas. Tento lecionar para, aproximadamente, 500 crianças por semana. Uso um microfone bastante potente, comprado por mim, para tentar fazer com que as crianças me ouçam. Meu próximo passo será um protetor auricular. Na última segunda-feira, dia 22 de agosto de 2011, amanheci completamente sem voz: afônica. Fui para a escola. Dei três tempos de aulas sem pronunciar palavra alguma. Tudo era escrito, em português e em inglês (eu sou professora de inglês, lembram?), e os que não sabiam ler eram ajudados pelos que sabiam. Após os três tempos em sala de aula, cumpri, como de costume, os dois tempos de horário complementar (horário usado para planejamento, por exemplo), já na secretaria da escola. Continuava afônica, e um pouco mais desgastada. Saí da primeira escola, e fui até a segunda escola, onde complemento meu horário. Tomei um pedaço de papel e escrevi (lembram que estava afônica?) que iria ao médico devido às condições nas quais me apresentava. A diretora, imediatamente, sugeriu que eu pegasse um BIM (é um documento oficial que os professores precisam levar a um posto de saúde, por exemplo, para ser preenchido por um médico, também funcionário público, depois que eu já estivesse de posse do diagnóstico e atestado do meu otorrinolaringologista). Depois disso, ela pensou melhor, e sugeriu que eu poderia não pedir licença do trabalho, e sim, passar um "filminho" em inglês para as crianças. Desta forma, eu não precisaria falar. Deus, na sua infinita sabedoria, me manteve afônica naquele momento, evitando, assim, que eu expressasse minhas emoções de maneira clara e bastante objetiva.

Ignorei as sugestões anteriores, faltei na parte da tarde e me dirigi ao consultório do meu médico, quando fui por ele diagnosticada: laringite e faringite. Uma caixa de antibióticos e mais três outros medicamentos foram indicados, além de dez dias de repouso. Dez?! Como eu poderia parar de trabalhar por dez dias?! Pedi que ele fizesse o atestado solicitando afastamento 
por cinco dias. Na terça-feira, dia 23 de agosto, pela manhã, fui à minha escola para pedir à diretora que fizesse o BIM (lembram-se dele?). Saí de lá, e procurei a clínica Rede Rio de Medicina, conveniada ao município do Rio de Janeiro, situada à Rua Aracaju, 25, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio, para que um médico de lá transcrevesse para o tal BIM aquilo que o meu médico havia diagnosticado no dia anterior. Sim, o diagnóstico do meu médico parece não ter validade junto à prefeitura do meu município. Lá chegando, fui informada de que não poderia ser atendida naquele dia porque o sistema estava com problemas e tudo estava sendo feito manualmente. Saí. Procurei o posto de saúde Belisário Pena, também em Campo Grande, onde uma funcionária simpaticíssima me informou que eu não poderia ser atendida porque já estava próximo de dar quatro horas da tarde. Sim, quatro horas da tarde e ninguém poderia se dar ao trabalho de transcrever o que constava no atestado fornecido pelo meu médico. Voltei para casa. Estava cansada e continuava sem voz.

Quarta-feira, dia 24 de agosto. Chego, novamente, à Rede Rio de Medicina, na mesma Rua Aracaju, 25, em Campo Grande, às 7h40m. Entrego os documentos e, às 7h50m sou informada pela recepcionista que seria a primeira cliente a ser atendida pela médica, e que o atendimento começaria a partir de 8h. Fiquei sentada num pátio coberto que serve como sala de espera, assistindo ao Bom Dia Brasil. Às 8h40m, voltei à recepção para perguntar se eu estava aguardando no local errado. Outra recepcionista me respondeu que a médica acabara de chegar, e que eu seria chamada à sala 3 ou 5. Começa o programa Mais Você. Cansada de ouvir nomes sendo chamados, voltei à recepção às 9h15m. Desta vez, me informaram que eu seria a primeira paciente a ser atendida depois das prioridades, os pacientes que estiveram na clínica no dia anterior e não puderam ser atendidos. Mas eu também estive na clínica no dia anterior, ora, pois! Às 9h43m, finalmente, a médica, que estava dentro de uma das salas de um longo corredor, gritou meu nome. Entrei. Simpática, ela me cumprimentou.
Perguntou como eu estava, e eu respondi que estava mal (Será que alguém procura um lugar daqueles quando está se sentindo bem?!). Ela preencheu meu BIM, perguntou o que o meu médico havia diagnosticado, me deu três dias de afastamento, assinou o documento, e eu voltei para a minha casa, onde cheguei por volta das 11h.

O que me pergunto até agora é: o que eu fui fazer no consultório daquela médica? Ela nem ao menos olhou a minha garganta! Óbvio que não! O meu médico já havia feito o trabalho. Durante esses dias da saga que acabei de descrever, eu falei mais do que teria falado em sala de aula. Minha garganta dói muito! Não fiz repouso, e o meu último dia de licença é hoje, dia 24 de agosto. Será que eu estou sendo muito exigente, muito crítica? Será que mais vale uma assinatura de uma médica que trabalha numa clínica conveniada ao município do Rio de Janeiro e que por nenhum momento me avaliou, do que a do meu médico, que avaliou minha garganta e meus ouvidos, diagnosticou as patologias, medicou e me sugeriu dez dias de afastamento? Será que a diretora que sugeriu que eu passasse um "filminho" em inglês para as turmas, e não abrisse a boca, no final das contas, não estava certa? Será que eu estou trabalhando no lugar certo? Será que as pessoas sabem que o sistema é assim? Será que eu deveria escrever isso para alguém? Quantos me apoiariam? Quantos me crucificariam? Será que eu devo entrar no ritmo dos que fingem que ensinam enquanto os alunos fingem que aprendem? Será que depois de passar num concurso público, com prova de conhecimentos específicos, prova de legislação em inglês, passar por uma prova oral elaborada pelos examinadores da Universidade de Cambridge com nota máxima, de ter duas graduações, várias especializações, alguns bons anos de magistério, eu ainda sou tão ignorante a ponto de ser jogada de um lado para outro para obter uma simples assinatura que comprove meu estado de saúde junto à Secretaria de Educação do Município do Rio de Janeiro? Que país é esse?, perguntaria o saudoso Renato Russo.


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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

26/08/2011

Sala de aula digital: um sonho possível


O Tempo, 26/08/2011 - Belo Horizonte MG
Sala de aula digital: um sonho possível
Educação poderá mudar trajetória rumo a um novo padrão de qualidade
VIVIAN MANSO
Há um longo caminho pela frente, repleto de desafios, para que realmente tenhamos uma educação de melhor qualidade no Brasil. Em busca dessas melhorias, está em análise para votação no Congresso um conjunto de metas da educação brasileira para os próximos dez anos. Entre as várias propostas, constam a melhoria da qualidade dos ensinos fundamental e médio e o aumento dos recursos aplicados na área. No meio de tais avanços, está o desafio de se encontrar uma forma de ensinar alinhada à era  digital, tema que incendeia debates e vai muito além das questões de investimento, passando, definitivamente, pela formação do professor. Um ponto que, na mesma medida, é decisivo e desafiador. Dessa forma, fica a questão: o sucesso para que haja melhorias no aprendizado depende apenas da tecnologia? Não. Definitivamente, não adianta substituir caderno por notebook e quadro verde por lousa digital, sem estratégia e conteúdos, sem aula preparada pelo professor, de forma a contemplar a  tecnologia. Não há dúvida, a equação está finalizada e o sucesso da era digital do ensino ocorrerá somente quando duas ações ocorrerem simultaneamente: a inserção da tecnologia na sala de aula e um professor preparado para explorá-la, ao lado de seus alunos. Portanto, somente quando a tecnologia chegar à sala de aula e o professor estiver pronto para fazer dela o melhor uso, é que a educação poderá mudar sua trajetória rumo a um novo padrão de qualidade.

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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

57% não sabem matemática

Estado de Minas, 26/08/2011 - Belo Horizonte MG
57% não sabem matemática
Em leitura, avaliação feita com 6 mil estudantes que concluíram a antiga 2ª série mostra que 43,9% não aprenderam o esperado
Larissa Leite
Brasília – A estratégia de Jeanne Cordeiro Silva, professora do 4º ano do ensino fundamental da Escola Classe 3 do Guará (DF), é dividir a turma em crianças com deficiências semelhantes. Solução encontrada para distribuir melhor a atenção e, assim, o ensino. "Na minha sala, tenho um grupo que ainda não aprendeu a multiplicação, outro que já começou a divisão e um terceiro que não sabe nenhuma das duas operações", exemplifica. O malabarismo da aprendizagem presente no cotidiano de Jeanne é a realidade de milhares de docentes do país. Isso porque, segundo resultados da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização), 57,2% das crianças que concluíram o 3º ano não conquistaram um aprendizado esperado em matemática. Em relação à leitura, 56,1% aprenderam o suficiente para, por exemplo, localizar informações explícitas em textos. A avaliação foi feita no primeiro semestre com cerca de 6 mil alunos de 250 escolas municipais, estaduais e particulares de todas as capitais do país. Os estudantes tinham em média 8 anos.

Para a diretora executiva da Todos pela Educação, Priscila Cruz, os percentuais devem ser
considerados muito abaixo do que se espera de uma educação de qualidade. "Fizemos metade da nossa lição de casa. Enquanto o país não tiver 100% das crianças com habilidades básicas em conteúdos fundamentais, não podemos ficar satisfeitos", disse. A avaliação foi feita pela organização em parceria com o Instituto Paulo Montenegro/Ibope, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os alunos também foram avaliados na área da escrita, em que 46,6% dos avaliados não apresentaram um desempenho esperado – ou seja, foram incapazes de desenvolver a temática proposta para uma redação.

DISTORÇÕES HISTÓRICAS Os resultados da avaliação apresentaram diferenças entre as regiões do país e entre as escolas públicas e privadas. O Centro-Oeste mostrou o segundo melhor percentual no caso da leitura e da matemática, atrás apenas da Região Sul. As regiões Norte e Nordeste ficam abaixo da média nacional nos três critérios: leitura, matemática e escrita. Já as escolas públicas tiveram resultados inferiores às particulares em todas as regiões. No caso da matemática, a rede de ensino pública não
atingiu pontuação satisfatória em nenhuma região. Ou seja, os alunos não demonstraram domínio da adição e subtração e não conseguiram resolver problemas envolvendo notas e moedas. De acordo com a secretária de educação básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda, é preciso ter uma "paciência histórica". "Temos que fazer o que não foi feito nos séculos 19 e 20: colocar todas as crianças na escola, garantir o aprendizado e fazer com que os pais e as mães voltem para a escola. O Brasil se acostumou com a desigualdade de oportunidade durante muito tempo", disse.

Segundo a diretora-executiva do Instituto Paulo Montenegro, Ana Lúcia Lima, os resultados apontam para a ocorrência de disparidades desde os primeiros anos da escola. "Os dados mostram que todas as desigualdades se reforçam ao longo da trajetória escolar da criança. Quanto mais as séries avançam, mais aumenta a evasão. Isso vai gerar o que se percebe daqui a 15 anos: o fato de que apenas 25% dos brasileiros têm efetivamente domínio da leitura e da escrita. Essa distorção deve ser corrigida nos anos iniciais do ensino fundamental", afirma.


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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

25/08/2011

STF publica decisão que declarou legal o piso nacional dos professores

O Estado de São Paulo, 24/08/2011 - São Paulo SP
STF publica decisão que declarou legal o piso nacional dos professores
STF confirmou que piso nacional deve ser interpretado como vencimento básico, sem gratificações e outros adicionais
Agência Brasil
O Supremo Tribunal Federal (STF) publicou nesta quarta-feira, 24, o acórdão do julgamento ocorrido em abril que reconheceu a constitucionalidade da lei que criou o piso nacional do magistério. Alguns governos estaduais e prefeituras estavam aguardando a publicação do acórdão para se adequar à legislação. A Lei do Piso foi sancionada em 2008 e determinou que nenhum professor da rede pública com formação de nível médio e carga horária de 40 horas semanais pode ganhar menos de R$ 950 por mês. Com a correção, o valor do piso este ano passou para R$ 1.187. Quando a lei foi aprovada, cinco governadores entraram no STF questionando a constitucionalidade do piso nacional. Este mês, professores de 21 estados pararam as atividades para exigir o cumprimento da lei. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em  Educação (CNTE), "a decisão do STF, tão aguardada por milhões de trabalhadores em educação, torna incontestável qualquer opinião que desafie a constitucionalidade e a aplicação imediata da lei".

Prefeituras sem dinheiro. O STF confirmou, no julgamento, que o piso nacional deve ser interpretado como vencimento básico, isto é, sem gratificações e outros adicionais. As prefeituras alegam que não têm dinheiro para garantir o salário de acordo com o que determina a lei. Levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) com 1.641 prefeituras mostra que, considerando o piso como vencimento inicial, a média salarial paga a professores de nível médio variou, em 2010, de R$ 587 a R$ 1.011,39. No caso dos docentes com formação superior, os salários variaram 
entre R$ 731,84 e R$ 1.299,59. Outro levantamento, feito pela CNTE com os sindicatos filiados, mostrou que 17 estados não pagam aos professores o valor mínimo estabelecido em lei. Não há levantamento sobre o cumprimento da lei nas redes municipais. Estados e municípios podem pedir ao Ministério da Educação uma verba complementar para estender o piso nacional à todos os professores. Para conseguir o dinheiro, é preciso comprovar que aplica 25% da arrecadação em educação, como prevê a Constituição Federal, e que o pagamento do piso desequilibra as contas públicas. O MEC tem R$ 1 bilhão disponíveis para este fim, mas, desde que a lei foi criada, nenhuma das prefeituras que solicitaram a complementação de recursos cumpriu as exigências necessárias para receber o dinheiro.


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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

23/08/2011

FW: PROFESSORES DE GOIÁS

                O nosso excelentíssimo ditador e governador Marconi Perilo precisa ser informado que a ditadura em nosso país acabou faz 30 anos, que nós, PROFESSORES, somos meros seres humanos e que apesar dos avanços da ciência, ainda estamos passíveis às intempéries da vida. Não é um bônus de R$ 1.500,00 que vai nos proteger contra doenças, nem aos nossos filhos, pais, esposos(as).... Faltas existem e não são sinônimo de irresponsabilidade. É  um absurdo crer que será um bônus que transformará a Educação; há primeiro que se mudar a sociedade, a família, as políticas públicas e erradicar a corrupção e, principalmente, o "jeitinho" brasileiro que favorece poucos em detrimento de muitos.
          Queridos colegas, caros PROFESSORES, de agora em diante teremos que pedir aos nossos pais e parentes mais próximos que, quando forem morrer, que o façam nos finais de semana, pois do contrário não poderemos ir ao velório, com o risco de perdermos o bônus oferecido pelo bondoso senhor Governador do Estado de Goiás.
           Vale lembrar que meses atrás o governador, juntamente com o secretário da educação prometeu um aumento para os diretores a partir do mês de maio. Pergunte se eles cumpriram? NÃÃÃÃÃÃÃÃO. Então vocês acham que eles vão pagar o bônus? Acho que tá difícil.
           Nós educadores precisamos é de um aumento salarial decente (se o piso é Lei, por que não é pago?????) , de reconhecimento real e não um Projeto que é mais uma propaganda política do que reconhecimento verdadeiro. O nosso secretário afirma que os professores voltaram às salas de aula por causa do bônus. MENTIRA: fomos obrigados!
           Se você é um cidadão que preza uma educação de qualidade, que tem parentes ou amigos professores divulguem essa nota aos seus contatos. Talvez ela chegue aos ouvidos  do nosso governador e assim ele passe a escutar o clamor dessa classe tão sofrida e oprimida.

Como ensinar Matemática para crianças?

Folha Dirigida, 22/08/2011 - Rio de Janeiro RJ
Como ensinar Matemática para crianças?
Thiago Lopes
Entre todas as disciplinas do currículo básico das escolas de ensino fundamental, geralmente, a Matemática costuma ser a que mais gera dificuldades para os alunos. Prova disso, são os resultados obtidos nas avaliações dos estudantes, que revelam um desempenho mais baixo na disciplina do que em outras matérias, como Língua Portuguesa, por exemplo. Na última Prova Brasil, o avanço no desempenho dos alunos em Matemática foi praticamente nulo ou pouco significativo em relação ao exame anterior. Entre 2007 e 2009, os estudantes do 9º ano do ensino fundamental aumentaram a média em apenas um ponto, de 241 para 242. No 3º ano do ensino médio, a média passou de 264 para 266. A exceção foi o 5º ano do fundamental, onde o avanço foi mais significativo, passando de 189 para 199. A prova faz parte do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e é aplicada a cada dois anos, com o objetivo de realizar um diagnóstico do sistema educacional brasileiro e de alguns fatores que possam interferir no desempenho do aluno. No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), um levantamento produzido a cada três anos e que faz um raio-x da situação da educação no mundo, entre 65 países analisados, em Matemática, o Brasil ficou 214 pontos abaixo do primeiro colocado, China (Xangai), e apenas 55 a frente do último, o Quirguistão. Apesar de ser o país que obteve o maior crescimento nas médias, o desempenho brasileiro ainda deixou a desejar, já que menos da metade dos jovens com 15 anos completos não consegue passar do nível mais básico de compreensão. A média internacional estabelecida para a disciplina era de 496 pontos, e o Brasil obteve apenas 386, ficando acima de apenas oito países no ranking.

Segundo Willian Schmidt, do Instituto de Pesquisa Matemática e Educação Científica da Michigan State University, nenhum país tem desempenho exemplar em todas as áreas da educação. O problema, na opinião do especialista, é que além de ser uma disciplina difícil por si só, a Matemática ainda é ensinada de forma pobre, o que resulta na grande dificuldade encontrada pelos estudantes. De acordo com ele, os países com melhores desempenhos nas avaliações internacionais possuem características em comum que os diferenciam daqueles com baixos resultados: a coerência, o foco e o rigor. "Cada série precisa focar questões específicas. Não dá para ensinar muita coisa, pois quanto mais ampliado for o currículo, mais raso será o aprendizado. Precisamos ensinar de forma mais profunda, dando mais tempo para aprender no nível correto, sem a necessidade de ficar repetindo", falou durante o seminário internacional "O ensino da Matemática nas séries iniciais", promovido pelo Instituto Alfa e Beto, no Rio de Janeiro, no dia 18 de agosto.

Dentre os três fatores, Willian Schmidt, que também é membro da Associação Americana de Pesquisa em Educação e diretor do projeto de Promoção de
Resultados Rigorosos na Educação em Matemática e em Ciências, destacou a coerência. Para o pesquisador, é preciso pensar como, o que e em qual sequência o conteúdo da Matemática será ensinado. Sem isso, de acordo com ele, o estudo torna-se um simples exercício de decorar. "As coisas não podem ser arbitrárias. Nos Estados Unidos, frequentemente, é assim. A instrução não deve ser conduzida desta forma, mas sim com padrões de coerência estabelecidos. Quando não se considera sua natureza cumulativa, a Matemática torna-se uma memorização de factoides não conectados, o que é prejudicial para as crianças, que não conseguem ver sentido na matéria e, consequentemente, não aprendem", comentou, ressaltando que há uma progressão lógica inerente a disciplina e só é possível avançar na medida em que o aprendizado é desenvolvido de maneira correta.

O especialista também aproveitou a oportunidade para chamar atenção para outro fator decisivo, a educação de qualidade para todos. Segundo Willian Schmidt, existe forte relação entre pais com educação superior completa e crianças com bom desempenho escolar. Contudo, para ele, um país que deseja se desenvolver de fato não pode educar apenas a elite social. "Nos locais com pessoas mais ricas, vemos que mais crianças aprendem Matemática. Nos países com alto desempenho, isso não ocorre, pois existem políticas públicas para que todos tenham um ensino igualitário. Até nesses locais, existem dificuldades, é natural na aprendizagem. Mas não podemos diferenciar definindo o que cada classe aprenderá", afirmou o educador, lembrando da importância de formar bons professores e valorizá-los.

Exemplo de outros países podem servir para o Brasil - Estudos comparativos entre professores da China e dos Estados Unidos revelaram que os docentes chineses, mesmo sem ensino superior, conseguem resultados mais significativos com seus alunos. Em um primeiro momento, isso pode soar estranho, mas existe uma razão: eles conhecem melhor o conteúdo daquilo que ensinam. Para João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, este pode ser um caminho para o Brasil, pois é o conhecimento dos fundamentos, e não a titulação formal, que explica o desempenho superior dos professores de séries iniciais nos países asiáticos. "De acordo com as evidências, um bom professor de séries iniciais não precisa nem ter faculdade. Basta saber muito bem o assunto, isso explica 90% do resultado. É muito mais fácil do que ficar pensando em pós-graduação. Por isso que eu digo, existem saídas. A questão é se o país consegue arregimentar vontade política para que isso seja feito", disse, afirmando, logo em seguida, que não crê que isso vá acontecer. "O governo não cria políticas públicas em favor da população, mas sim pensando nas corporações. Assim, o país não avança. Até porque, infelizmente, não é apenas na educação que é assim", completou. De acordo com o especialista, os
cursos de formação docente não estão nem um pouco sintonizados com as novas descobertas científicas na área e métodos de ensino e aprendizagem. Para ele, aqueles voltados para professores de séries iniciais não têm quase nada de Matemática, enquanto os direcionados para professores especializados na disciplina não conseguem atrair pessoas boas na área. "Um aluno que chega sem base no 6º ano do ensino fundamental dificilmente vai para frente. Precisamos implementar um bom currículo e, enquanto não tivermos uma melhora na formação dos professores, criarmos materiais didáticos bem estruturados. Ao mesmo tempo, é fundamental pensar desde já a longo prazo, buscando atrair gente bem formada para ensinar Matemática. Esse é o grande desafio do Brasil", analisou.

Coleção orienta pais e professores para o ensino da Matemática - Entender Matemática não é fácil. Pensando nisso, Osmar Nunes criou a coleção "Matemática para pais e professores das séries iniciais". A ideia é utilizar o conhecimento que foi desenvolvido na área de Neurociência e Psicologia Cognitiva e nos conteúdos dos programas dos países que tem obtido as melhores notas nas avaliações internacionais, tudo fundamentado na realidade brasileira, para tornar a Matemática mais palatável para pais e, principalmente, professores que atuam nas séries iniciais. Ao todo, são seis livros. O primeiro é uma introdução e dá uma visão geral da coleção, explicando o motivo de as crianças terem dificuldade e não aprenderem a Matemática com facilidade. Os outros são voltados para os conteúdos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Eles buscam mostrar ao professor como ele deve ensinar aquele tipo de matéria e como os pais podem ajudar seus filhos a aprenderem. "Quando a criança começa a ter dificuldades e não é estimulada a desenvolver seu conhecimento, ela vai acumulando isso a cada série. Sendo trabalhada desde a base, a tendência é que não tenhamos mais jovens que não saibam fazer contas com frações, trabalhar com Geometria Básica, noções de gráfico, de estatística, etc. Tudo isso depende da Matemática Básica, que pode não ter sido bem ensinada nos primeiros anos de estudo", comentou o autor da coleção.

De acordo com Osmar, os pais têm um papel importante e não devem deixar de ajudar. No entanto, é preciso tomar cuidado para não exagerar e acabar fazendo o dever de casa no lugar da criança. Para os professores, a grande dica é focar naquilo que é essencial e não perder tempo com conteúdos rasos, que sirvam apenas para encher as aulas. "O ideal é reservar uma hora por dia para dar atenção ao seu filho, ver o que ela está fazendo, o que está estudando, como está na escola, etc. No caso dos professores, é bom fazer um planejamento de aula que seja realmente exequível e de ênfase no que importa de fato. Às vezes, damos muito assunto, mas não aprofundamos nada. Assim, o aluno aprende tudo superficialmente e fixa nada", orientou.


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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

22/08/2011

Brasil precisa cobrar e recompensar professor, diz economista israelense

Brasil precisa cobrar e recompensar professor, diz economista israelense
Victor Lavy defende os velhos métodos de ensino para melhorar qualidade. 'O professor brasileiro não cumpre o currículo escolar', avalia
Paulo Guilherme do G1, em São Paulo
O sistema de educação do Brasil precisa melhorar muito para que o país possa ser considerado como exemplo de um ensino de qualidade. Esta é a avaliação do economista israelense Victor Lavy, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Estudioso dos mais variados métodos de ensino pelo mundo, Lavy  considera que mais do que equipar as salas de aula com computadores e tablets, é preciso aprimorar o velho método de ensino do professor com os alunos. Lavy veio ao Brasil participar de um seminário no Ibmec, no Rio, para falar sobre a economia da educação e suas implicações para as políticas educacionais. Ele já havia  visitado o país em 2009, e viu poucas mudanças significativas nestes dois anos. "O Brasil ainda tem muito o que melhorar", afirma Lavy. Em entrevista ao G1, por telefone, Lavy estabeleceu algumas medidas que o país deve buscar para ter um ensino de melhor qualidade. Confira:
G1 - O Brasil cresceu economicamente nos últimos anos, mas a qualidade do ensino não tem acompanhado este crescimento. O que é preciso mudar isso?
Lavy – Algumas medidas devem ser buscadas. Uma delas é valorizar o trabalho do professor, estabelecendo metas a serem alcançadas e as recompensando com premiação por bom desempenho. Pagar bons salários. Exigir que o currículo escolar seja cumprido à risca, com métodos que permita aferir se os estudantes estão realmente aprendendo o que lhe é ensinado. É importante também mostrar aos pais o valor da boa educação para os seus filhos, para assim insistir que eles continuem na escola.

De que maneira se deve avaliar que o estudante está aprendendo o que lhe é ensinado?
Uma possibilidade é fazer testes baseados no currículo da semana. Costuma funcionar muito bem em outros países, e é um caminho que pode dar certo no Brasil. É importante ter certeza de que o estudante está compreendo o que está sendo ensinado. Na minha opinião o velho estilo de dar aulas é efetivo. Repetir exercícios e buscar a memorização são práticas muito úteis.

O que o senhor acha do uso de computadores, tablets e outras tecnologias em sala de aula?
Não dá para esperar que o computador vá resolver o problema da educação. Eles são caros, precisam ser trocados a cada dois anos, podem ser roubados das escolas. Enfim, é um investimento importante, pode ser usado para pesquisas na internet, mas não é o que vai melhorar o aprendizado.

Muitas escolas de ensino médio centralizam suas ações no preparo dos alunos para exames de admissão nas universidades, os vestibulares. O que o senhor pensa disso?
É natural para o estudante se focar nestes exames. Se ele está aprendendo alguma coisa do currículo durante o ensino médio, vai ter uma educação boa. Mas não se pode só pensar no vestibular. É preciso expandir os horizontes do aluno. É preciso pensar no respeito às leis e na democracia.

Quais países podem servir de modelo de sistema de educação?
A Finlândia é um belo exemplo. O professor é muito bem remunerado por lá. Na Escandinávia, de forma geral, ser professor é um trabalho de honra, as pessoas se inspiram nos seus professores. Coreia do Sul, Hong Kong e Taiwan também apresentam bons resultados. Os estudantes passam muitas horas nas escolas nestes países porque há muita pressão para elas terem sucesso. E há disciplina. Eles entendem a importância de se ter esta educação. Minha filha foi fazer intercâmbio na Coreia do Sul. Lá os alunos ficam das 8h30 às 23h na escola. Vão para casa só para dormir. São casos de sucesso que nem sempre funcionam em outros países, mas podem servir de motivação para se pensar o que se pode fazer para melhorar.

O senhor costuma dizer que no Brasil a hora-aula não tem o mesmo aproveitamento que em outros países. O que acontece?
Quando se analisa o ensino em aulas adicionais de matemática e ciências, por exemplo, não se vê uma melhora no rendimento dos estudantes. No Brasil o professor não cumpre o currículo que lhe é proposto. Muitos faltam ao trabalho, outros conseguem cumprir 50%, no máximo 60% do cronograma. É preciso cobrar os professores e recompensá-lo pelas metas alcançadas.


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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

Alunos pulam a faculdade e vão direto ao mestrado


Alunos pulam a faculdade e vão direto ao mestrado
Destaques nacionais em matemática são convidados a começar estudos avançados antes mesmo da graduação
Cinthia Rodrigues, iG São Paulo
Um dos ditados mais conhecidos da matemática diz que a ordem dos fatores não altera o produto final. Jovens estudiosos da área levaram o ensinamento para a carreira acadêmica. Hugo Fonseca Araújo, de 19 anos, ainda no 2º ano da faculdade, já está no mestrado. Renan Henrique Finder, da mesma idade, iniciou primeiro o mestrado em 2010 e só este ano entrou na graduação. O caçula Matheus Seco, 18, está no 1º ano do curso superior, mas já dá aulas em cursinho. Os três começaram a estudar conteúdos além da série em que estavam matriculados ainda no ensino fundamental para participar de competições educacionais. Todos acumulam prêmios nacionais e internacionais, os mais recentes da Competição Internacional de Matemática para Universidades, na Bulgária, no início de agosto. Das 13 medalhas da equipe brasileira, a única de ouro foi a do calouro da PUC do Rio, Renan, que já está no quarto semestre do mestrado no Instituto de Matemática Pura Aplicada (Impa). "Na graduação, confesso que falto bastante, já vi quase tudo", diz. Catarinense de Florianópolis, ele participou das Olimpíadas Brasileiras de Matemática desde a 6ª série, quando se mudou para Joinville com a família. Desde então, era convidado para a reunião anual de medalhistas no Rio de Janeiro e foi em uma delas que ouviu falar pela primeira vez na possibilidade de avançar nos estudos e iniciar pesquisas na área, mas não levou a sério. "Eu achava que era história fantástica, coisa para gênio, estrela".

A precocidade começou aos 15 anos. Enquanto a maioria dos jovens só sai de casa para fazer faculdade, ele se mudou para
cursar o ensino médio. "O colégio onde eu fiz o ginásio não me desafiava e pedi para morar em São Paulo, com uma tia. Ela me ensinou a me virar sozinho, fazer supermercado, cuidar da casa, etc." Ainda assim, Renan planejava seguir a ordem comum dos estudos. Em 2009, prestou a primeira fase do vestibular na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade de Campinas (Unicamp), mas foi convidado a ingressar no Impa e se mudou para o Rio antes mesmo da segunda etapa do processo seletivo nas instituições paulistas, em janeiro de 2010. "Vim experimentar o curso de verão e fiquei", conta. Só em 2011 começou a graduação, que será exigida para validar seu diploma de mestrado. Hoje ele tem uma bolsa de estudos e divide apartamento com outros três alunos da pós-graduação de 25 e 26 anos. "Meus amigos em geral são mais velhos, tanto em casa quanto nas aulas. Isso tem um lado bom e um ruim, como tudo quando se trata de relações humanas. Às vezes, sou meio bobo, mas acho que em geral amadureci mais rápido."

Outros que anteciparam etapas são Hugo e Matheus. O primeiro é coetâneo e o segundo, ainda mais novo que Renan. Os três têm muito em comum. Hugo saiu de Juiz de Fora para fazer o ensino médio no Rio e também é um dos representantes do Brasil em competições internacionais. Demorou um pouco mais a começar o mestrado e entrou primeiro na faculdade, por conselho da mãe, Maria Angélica Fonseca: "Eu sempre achava que era bobagem ele antecipar, pular etapas, mas ele foi convidado e gosta tanto do que estuda que se dedica de qualquer forma e acabei concordando", conta ela, lembrando
de quando o filho pediu para participar de uma competição pela primeira vez. "Era de astronomia e ele estava no ginásio. Quando ele me falou, eu disse 'mas você não entende nada disso' e ele respondeu que sabia, tinha visto na TV. Então, foi lá, ganhou e foi representar o Brasil na Índia." Matheus é o único que já morava no Rio. Desde o colegial acompanha algumas matérias do mestrado do Impa como "Introdução a teoria dos números" e "Tópicos de matemática discreta", mas ainda não é aluno oficialmente. Em compensação, alterna as aulas que recebe na graduação com as que dá em um cursinho para interessados em treinamento para competições matemáticas. "Não sou professor das aulas regulares, nem poderia, mas os que querem se aprofundar em matemática fazem aulas especiais comigo", explica.

Precedente de sucesso - Antes dos três, Alex Correa Abreu antecipou o mestrado e o doutorado antes da graduação. "Comecei o mestrado aos 15 anos, na minha 8ª série. Primeiro só frequentava as aulas, depois veio a matrícula e em seguida o doutorado", conta hoje com 25 anos. O que foi rápido na pós, ele demorou na faculdade. Como faltava bastante no curso de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi reprovado algumas vezes e levou cinco semestres a mais para concluir o curso. "Fiz mais para poder oficializar o doutorado", diz. Formado, ele foi chamado para ser professor pesquisador da Federal Fluminense, onde está atualmente. Poucas instituições no País permitem que estudantes de graduação acompanhem também aulas de mestrado e sempre em regime de exceção.

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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

19/08/2011

30 anos de idade

Fazer 30 anos é passar da reta à curva. Fazer 30 anos é passar da quantidade à qualidade. Fazer 30 anos é passar do espaço ao tempo. É quando se operam maravilhas como a um cego em Jericó.

Fazer 30 anos é mais do que chegar ao primeiro grande patamar. É mais que poder olhar pra trás. Chegar aos 30 é hora de se abismar. Por isto é necessário ter asas, e sobre o abismo voar.


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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

SE ESCOLA FOSSE ESTÁDIO E EDUCAÇÃO FOSSE COPA

SE ESCOLA FOSSE ESTÁDIO E EDUCAÇÃO FOSSE COPA

Passei, nesses últimos dias, meu olhar pelo noticiário nacional e não dá outra: copa do mundo, construção de estádios, ampliação de aeroportos, modernização dos meios de transportes, um frenesi em torno do tema que domina mentes e corações de dez entre dez brasileiros.

Há semanas, o todo-poderoso do futebol mundial ousou desconfiar de nossa capacidade de entregar o "circo da copa" em tempo hábil para a realização do evento, e deve ter recebido pancada de todos os lados pois, imediatamente, retratou-se e até elogiou publicamente o ritmo das obras.

Fiquei pensando: já imaginaram se um terço desse vigor cívico-esportivo fosse canalizado para melhorar nosso ensino público? É… pois se todo mundo acha que reside aí nossa falha fundamental, nosso pecado social de fundo, que compromete todo o futuro e a própria sustentabilidade de nossa condição de BRIC, por que não um esforço nacional pela educação pública de qualidade igual ao que despendemos para preparar a Copa do Mundo?

E olhe que nem precisaria ser tanto! Lembrei-me, incontinenti, que o educador Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação e hoje senador da República, encaminhou ao Senado dois projetos com o condão de fazer as coisas nessa área ganharem velocidade de lebre: um deles prevê simplesmente a federalização do ensino público, ou seja, nosso ensino básico passaria a ser responsabilidade da União, com professores, coordenadores e corpo administrativo tendo seus planos de carreira e recebendo salários compatíveis com os de funcionários do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal. Que tal? Não é valorizar essa classe estratégica ao nosso crescimento o desejo de todos que amamos o Brasil? O projeto está lá… parado, quieto, na gaveta de algum relator.

O outro projeto, do mesmo Cristovam, é uma verdadeira "bomba do bem". Leiam com atenção: ele, o projeto, prevê que "daqui a sete anos, todos os detentores de cargo público, do vereador ao presidente da República serão obrigados a matricular seus filhos na rede pública de ensino". E então? Já imaginaram o esforço que deputados (estaduais e federais), senadores e governadores não fariam para melhorar nossas escolas, sabendo que seus filhos, netos, iriam estudar nelas daqui a sete anos? Pois bem, esse projeto está adormecido na gaveta do senador Antônio Carlos Valladares, de Sergipe, seu relator. E não anda. E ninguém sabe dele.

Desafio ao leitor: você é capaz de, daí do seu conforto, concordando com os projetos, pegar o seu computador e passar um e-mail para o senador Valadares (antoniocarlosvaladares@senador.gov.br) pedindo que ele desengavete essa "bomba do bem"? É um ato cívico simples. Pela educação. Porque pela Copa já estamos fazendo muito mais.

Jorge Portugal é educador, poeta e apresentador de TV. Idealizou e apresenta o programa "Tô Sabendo", da TV Brasil.



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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

Para cumprir metas do novo PNE, serão precisos R$ 100 bi a mais do que prevê MEC

Correio Braziliense, 17/08/2011 - Brasília DF
Para cumprir metas do novo PNE, serão precisos R$ 100 bi a mais do que prevê MEC
Diario de Pernambuco
Uma nota técnica divulgada nesta quarta (17/8) pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE) defende a destinação de 10% do PIB para a área, e não 7% como prevê o projeto do Plano Nacional de Educação II (PNE II), enviado pelo Ministério da Educação (MEC) ao Congresso Nacional. De acordo com o estudo, se forem mantidos os valores atuais, continuará a dissociação entre acesso e qualidade. Após o processo de democratização da educação básica, iniciado nos anos 1990, o desafio agora é melhorar o ensino. O CNDE afirma que o custo anual, nos próximos dez anos, para o atendimento das metas do PNE II, precisa ser de R$ 16,9 bilhões, e não R$ 6,109 bilhões como estabelece o MEC. No decênio, serão precisos R$ 100 bilhões a mais do que o previsto. Para chegar nesse resultado, foi utilizado o cálculo chamado Custo Aluno- Qualidade Inicial (CAQi), desenvolvido pela campanha desde 2002. Ele, aponta o valor mínimo necessário para uma educação de qualidade. E ainda está abaixo daquele praticado pelos países desenvolvidos. Sua utilização na elaboração do novo PNE foi aprovada na Conferência Nacional de Educação, mas desconsiderada pelo MEC.

A nota técnica aponta ainda discrepâncias entre a realidade e o texto do plano. Por exemplo: no caso do ensino médio e da educação especial, não há indicação de nenhum incremento nas verbas. Já para a implantação da educação integral, o valor adicional proposto pelo ministério, por aluno, é de apenas R$ 369,75, enquanto, pelo CAQi, deveria ser de R$ 2.396,44. Neste caso, a demanda de recursos, 
em dez anos, seria de R$ 20 bilhões maior. O texto em discussão no Congresso também não prevê a ampliação de espaços físicos das redes municipais e estaduais, pois haveria um equilíbrio em função da menor pressão demográfica: com uma menor população em idade escolar, sobrariam vagas que seriam ocupadas no aumento do número de matrículas. Esse raciocínio, entretanto, não permite concluir que haverá um casamento geográfico entre oferta e demanda. A CNDE critica algumas incoerências do PNE II. Uma delas, é a falta de uma divisão de responsabilidades entre União, estados e municípios. Também não foi realizado cálculo de custos para o atendimento de três metas: expansão do ensino superior, alfabetização de 14 milhões de jovens e adultos e a melhoria do Ideb.


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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

O preconceito linguístico e o papel das escolas

O Tempo, 18/08/2011 - Belo Horizonte MG
O preconceito linguístico e o papel das escolas
Respeitar os olhares da língua
MARIA DO ROSÁRIO BESSAS
Nada mais me surpreende neste Brasil. O pouco caso das autoridades responsáveis pela educação já se instalou no ninho de comodismo desse pacato povo brasileiro. Todos os dias, são apresentadas denúncias e escândalos envolvendo a administração de nossas escolas e a gente não vê nada sendo feito para apurar e punir os responsáveis pelo crime contra nossas crianças e adolescentes. Vemos, constantemente, piadinhas sobre nosso jeito caipira de falar e sabemos que muita gente se recusa a falar em público por causa dos limites da língua que a vida lhe impôs.Não dominar corretamente a escrita e a fala é uma algema ideológica na liberdade de expressão de cada um. Embora isso não afete todos com a mesma intensidade, cria barreiras e preconceitos sociais. A única instituição capaz de libertar o homem dessa prisão invisível é a escola.

E agora vem essa onda de modernidade varrendo o bom senso e querendo semear a ideia inovadora do uso adequado e inadequado da língua. Para nós,
que já temos uma certa maturidade, é perfeitamente compreensível que temos que respeitar os vários olhares da língua, a regionalidade e os diversos discursos gerados pelas diferentes camadas sociais. A escola não pode levantar barreiras diante dessa diversidade de expressão que entra todos os dias pelas suas portas, mas deve ser capaz de conduzir seus alunos a alcançarem o domínio da língua culta, que é a representação da nossa pátria, da mesma forma que outros símbolos nacionais.


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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

18/08/2011

Mais de 18 milhões de estudantes disputam olimpíada de matemática

Portal G1, 18/08/2011
Mais de 18 milhões de estudantes disputam olimpíada de matemática
Primeira fase é realizada nesta quarta-feira em 44,6 mil escolas públicas. Segunda fase será no dia 5 de novembro.
Do G1, em São Paulo
Com mais de 18 milhões de inscrições, a Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) realiza nesta quarta-feira (17) a prova da primeira fase. A competição de conhecimento reúne estudantes da educação básica pública de 44,6 mil escolas espalhadas por 5.504 municípios. As provas são aplicadas por aproximadamente 150 mil professores, nas  escolas em que lecionam. Segundo os organizadores, 7,1 milhões de inscritos são do ensino médio; 6,2 milhões do sexta ou sétimo ano do ensino fundamental e 5,3 milhões no oitavo ou nono ano dessa etapa. A prova é composta por 20 questões objetivas com cinco opções de resposta. O tempo para o estudante responder os testes é de duas horas e 30  minutos. A correção dos testes é feita pelos professores das próprias escolas, com base em instruções e gabaritos elaborados pela direção da Obmep. A segunda etapa da olimpíada está prevista para 5 de novembro. Campeões de olimpíadas de matemática do ensino médio poderão concorrer a bolsas do governo federal para intercâmbio no exterior.


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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

16/08/2011

Matemática patina onde há mais procura

O Estado de São Paulo, 16/08/2011 - São Paulo SP
Matemática patina onde há mais procura
Estados com piores notas na disciplina em avaliações do MEC são os que têm mais interessados em seguir carreira de professor em exatas
Mariana Mandelli
Os Estados brasileiros que apresentam desempenhos medianos e baixos em matemática nas avaliações do Ministério da Educação (MEC) são os que mais registram ingressantes nas carreiras de professor da área de exatas, como física e mesmo matemática. A conclusão é de uma pesquisa do Insper (ex-Ibmec). Para as pesquisadoras Maria Cristina Gramani e Cintia Scrich, essa relação pode ser perigosa, já que forma um ciclo no qual alunos que tiveram um conteúdo defasado se tornam docentes justamente da área em que apresentam mais dificuldades de aprendizagem. "Isso cria uma relação complicada que só pode ser revertida se reforçarmos a base da educação básica", explica Maria Cristina Gramani. O estudo, intitulado "O desempenho educacional como fator de influência na escolha da profissão", analisou o desempenho em matemática de escolas públicas e privadas de todo o País. Para isso, utilizou as notas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2005, 2007, 2009 para 4.ª série e 8.ª série, e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2008.

Para descobrir quais Estados têm os melhores alunos em matemática, foi feito um ranking da eficiência educacional na disciplina, com a relação entre as notas obtidas no Enem e as notas de matemática ao longo dos outros anos do ensino fundamental, por meio do Saeb. Os Estados com melhores relações foram 
considerados os mais eficientes em matemática. Após essa fase, as pesquisadoras reuniram dados de procura (inscritos) e ingressantes (no vestibular) de cursos do ensino superior: Engenharia, Administração, Economia, Arquitetura, Medicina, Direito, Física e Matemática. "Piauí e Sergipe são grandes exemplos dessa relação preocupante: registram altos números de inscritos e ingressantes nos vestibulares para formação de professores em exatas e, ao mesmo tempo, têm desempenhos baixos em matemática", afirma Maria Cristina Gramani. A pesquisa do Insper também revelou uma tendência natural: os Estados que apresentam as maiores eficiências em matemática são aqueles onde há mais estudantes interessados em cursar as carreiras mais diretamente relacionadas a ela, como é o caso do curso de Engenharia. Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo, por exemplo, estão entre as unidades da federação que melhor representam essa relação.
Realidade. Para os professores dos cursos de Matemática, a pesquisa retrata a defasagem que os alunos apresentam ao ingressarem no ensino superior. "Os estudantes chegam com uma formação deficiente, que vem do ensino fundamental e do médio", diz Manoel Vieira Neto, coordenador do curso da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Ele acredita que a grande demanda pelas licenciaturas se deva à baixa concorrência e, consequentemente,
às baixas notas exigidas para o ingresso nesses cursos. Paulo de Souza Rabelo, chefe do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Sergipe (UFS), concorda. "Normalmente é o aluno carente, que estudo em escola pública, que vem com dificuldades", afirma. De acordo com ele, no curso da UFS, apenas 20% dos alunos passam para o segundo ano sem reprovar em nenhuma disciplina.

A dificuldade que os ingressantes nos cursos de licenciatura em exatas demonstram não é percebida somente nos Estados de piores desempenhos em matemática. "A defasagem é nítida", diz Paulo Roberto Nascimento, coordenador do curso de Matemática da Universidade Cruzeiro do Sul, de São Paulo. "Eles precisam de suporte." Equalização. Apesar de algumas universidades oferecerem cursos de nivelamento para os universitários com defasagem de conteúdo, os professores afirmam que é difícil superar as deficiências de oito anos em poucos meses. De acordo com Rodrigo Capelato, diretor executivo do Sindicato das Entidades de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), os cursos de nivelamento são comuns hoje. "A maior parte das instituições já tem, para evitar a evasão. Praticamente todas apresentam alguma iniciativa nesse sentido", explica Capelato. "Isso mostra a gravidade da baixa qualidade da nossa educação básica."


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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

12/08/2011

Presente e futuro

Gazeta do Povo, 12/08/2011 - Curitiba PR
Presente e futuro
O problema do analfabetismo no Brasil vai muito além da falta de escolas ou da evasão de alunos que precisam trabalhar. Dados do MEC revelam que apenas 6% dos alunos que terminam a 4.ª série podem ser considerados plenamente alfabetizados. No caso de quem completa o ensino fundamental, esse número sobe para 16%. Em países desenvolvidos, o porcentual de estudantes que têm um aprendizado adequado na língua natal chega quase aos 70%. Esses números são reflexo da falta de investimentos do poder público na infraestrutura das escolas, na qualificação dos professores e nas condições para que um aluno consiga prestar atenção às aulas, como o fornecimento de alimentação. A falta histórica de investimentos na educação brasileira gerou essa enorme população de analfabetos. Cabe agora ao governo investir o quanto antes em planos de ensino diferenciados para consertar os erros do passado e alfabetizar os adultos e, mais do que isso, olhar para a educação infantil para impedir que as crianças de hoje se tornem os analfabetos do futuro.


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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

11/08/2011

Além do vestibular, jovem deve definir qual caminho quer trilhar


Portal G1, 10/08/2011
Além do vestibular, jovem deve definir qual caminho quer trilhar
Escolas focam na prova esquecem de ajudar aluno a definir a carreira. Término do ensino médio representa uma mudança importante na vida
Ana Cássia Maturano Especial para o G1, em São Paulo
Algumas coisas na vida funcionam como um marco. Fazer sete anos de idade é uma delas. Antigamente era associado à entrada formal na escola. O que já não acontece mais. Mesmo assim, atingir essa idade parece conferir a criança um status diferente, possibilitando-lhe fazer coisas que antes não era possível (mesmo que isso seja ilusório – talvez, antes, fosse aprender a ler e a escrever). A vida vai sendo pautada por eventos que vão marcando o avanço no tempo e indicando uma mudança na maturidade das pessoas, ao menos em seu papel social. Às vezes, de tão desejados, parecem que vão demorar muito para chegar. Dando uma ideia de tempo longo e de algo que pode ser deixado para depois. Até que um belo dia, ao acordar, percebe-se que se está no final do ensino médio, em meados do mês de agosto, prestes a preencher as inscrições dos vestibulares. Aquilo que era distante, não demorou a chegar. Causando misto de frisson e medo.

Ora – dirão muitos – qual o problema? A garotada está se preparando há no mínimo três anos para 
fazer tão temida prova: muitas aulas, provas,  simulados (incluindo de vestibulares passados), discussões de temas da atualidade, leituras de livros propostos... e tantos outros recursos que os colégios têm buscado para dar um bom suporte aos alunos para terem um bom preparo. Tanto assim, que a impressão é que o único objetivo deles é o vestibular. Só o que a escola oferece não basta. É necessário que haja envolvimento e compromisso do aluno para com o estudo. E como ele deseja passar. Estudou muito para isso e é o que os jovens de sua idade devem fazer quando terminam o ensino médio. E por que tanta angústia? Ela reside no que significa o vestibular. Não é só fazer uma prova. Significa sair de um caminho pré-estabelecido pela nossa sociedade – pré-escola, ensino fundamental e médio – e começar a trilhar trajeto próprio, com direção menos determinada, que dependerá mais de cada um. Significa ter que, num momento de grande imaturidade, já escolher uma direção. Sendo que, de tão preocupadas com a prova (que serve de marketing para atrair futuros alunos de acordo com os índices de aprovação), as escolas se esquecem de ajudar  seus alunos a amadurecerem a idéia de qual  profissão seguir. Deixam de lado o preparo para a vida. A vida concreta e real.

Caso os alunos terminem o ensino médio e por algum motivo tiverem que se virar na vida, trabalhar mesmo, pouca chance terão. Ao menos inicialmente. Eles apenas foram treinados para fazerem a prova. Como se ela fosse um fim em si mesmo. O vestibular deixa de ser uma ponte para seguir um rumo ou planejar o futuro. É necessário que os estudantes tenham um espaço que informe as diferentes profissões que existem (que os guias ajudam inicialmente), mas que também permita que medos, incertezas e inseguranças possam ser olhados e trabalhados. Onde o futuro seja encarado para além do vestibular. No final das contas, a ideia de formação integral do aluno, vendida por muitas instituições educacionais, não vai muito além de ensinar a reciclar o lixo. O que é fundamental. Assim como é fundamental que a escola prepare seus alunos para prestarem o vestibular, mas também para se virarem na vida. (Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

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Ujeverson Tavares Sampaio
Professor de Matemática, Analista Pedagógico e Metodológico

10/08/2011

O maior desafio da educação


Gazeta de Alagoas, 10/08/2011 - Maceió AL 
O maior desafio da educação 
JOÃO BATISTA OLIVEIRA
Em meio a tantos, é possível definir o maior problema da educação? Quando falamos de educação, estamos falando de escola, cuja principal função é transmitir conhecimentos e desenvolver a capacidade de continuar aprendendo. O principal instrumento para aprender é a leitura. Portanto, ensinar a ler – isto é, alfabetizar – é o primeiro e maior desafio da escola. Mas a escola pública não tem conseguido fazer isso para a maioria da população. Qualquer um sabe diferenciar uma criança que sabe ler e escrever de uma que não sabe. Basta fazer um ditado ou dar-lhe um livro para ler. Nas escolas particulares, as crianças concluem o 1º ano lendo e escrevendo. Por que na escola pública isso não ocorre? Conhecemos as explicações: "Cada criança tem seu tempo, é preciso respeitá-lo"; "não existe idade certa para alfabetizar"; "é preciso deixar a criança descobrir sozinha e não atropelá-la com instruções..." 

Nada disso, porém, condiz com as
evidências científicas acumuladas nas últimas décadas pelos cientistas do mundo todo que estudam como as crianças aprendem a ler e escrever e quais as estratégias mais eficientes para promover essa aprendizagem. O Brasil começa a despertar, lentamente, para o problema. Diversos municípios e algumas redes estaduais – notadamente as de Sergipe e Ceará, no Nordeste – têm desenvolvido políticas de alfabetização mais eficientes. Mas isso ainda não é a norma. E nem todas as iniciativas produzem iguais resultados. 

A Prova Brasil mostra que metade dos alunos do 5º ano não sabe ler e escrever textos simples. O País patina na alfabetização devido a dois problemas. O primeiro é a descaracterização do que significa alfabetizar. Aquilo que qualquer pai ou mãe sabe identificar e deseja -- ou seja, que seu filho aprenda a ler e escrever no 1º ano de escola -- passou a ser objeto de especulações entre os educadores.
Alfabetizar passou a ser confundido, por exemplo, com ser capaz de compreender um texto... E com isso se perdeu a noção de que a criança deve ser alfabetizada no 1º ano. O segundo problema é a questão do método. O Brasil leva 30, quase 40 anos, sem dar orientações consistentes nessa área, como se método de alfabetização não fosse importante. A maioria dos professores não tem formação mínima para alfabetizar e as cartilhas distribuídas pelo MEC são um descalabro. As universidades continuam omissas e desatualizadas. Após anos de inércia, o País começa a despertar. Neste ano, o Brasil foi palco de vários seminários nacionais e internacionais onde mais de 50 cientistas de seis países apresentaram suas pesquisas sobre alfabetização. Amanhã, dia 11 de agosto, dois deles darão palestras em Marechal Deodoro, trazendo importantes contribuições para as redes de ensino interessadas na eficácia da alfabetização.
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Ujeverson Tavares Sampaio

 Portal G1, 10/08/2011 
Vereador diz que professores são inúteis e causa polêmica em SP 
Críticas foram publicadas na internet. Segundo a polícia, vereador de Jacareí pode responder por injúria 
Do G1 SP, com informações do VNews
Um vereador de Jacareí, no interior paulista, postou na internet críticas aos professores e à educação. Dario Bueno, mais conhecido como Dario Burro, escreveu que os professores são inúteis e que não gostam de dar aula. As declarações provocaram revolta na cidade. O diretor do Sindicato dos Professores, Roberto Mendes, foi até à Câmara da cidade nesta terça-feira (9) e expôs no plenário a indignação da categoria. "Isso, no nosso entendimento é calúnia, é difamação. Então, ele deve responder pelo o que ele fala, ele é um homem público", disse Mendes. 
Até esta terça-feira, não havia nenhuma representação contra o vereador na Câmara da 
cidade. Se isso for feito, o pedido será analisado pela Comissão de Ética e ele pode sofrer punições. Na sessão da Câmara desta terça-feira, o vereador comentou a polêmica, disse não se arrepender dos comentários que fez e que acredita ser livre para expor suas opiniões. "Eu estou sendo sincero e ninguém espera sinceridade das pessoas, quanto menos os políticos", disse o vereador. 

Se for denunciado, o vereador deve responder criminalmente pelas declarações. "Em tese, poderá configurar crime de injúria pela forma como ele fez essas declarações ofensivas, genéricas a uma categoria profissional dos 
professores", explicou o delegadoRoberto Martins. Neste tipo de crime de injúria, o culpado pode pegar até seis meses de detenção. O Sindicato dos Professores informou que ainda não fez uma representação na Câmara porque ainda vai se reunir para decidir que medidas tomar. O vereador se defendeu, novamente atacando os professores. "Eu não tenho essa preocupação e creio que isso não procede. Mas, isso também demonstra o perfil autoritário do professor. Toda vez que ele é contrariado, ele quer punir quem o contraria de alguma maneira. Dentro da sala de aula, levando para a diretoria ou reprovando e fora da sala de aula levando para a delegacia ou Judiciário".

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Ujeverson Tavares Sampaio

Pedagoga: relação online entre professor e aluno deve ter limite


Pedagoga: relação online entre professor e aluno deve ter limite
Não é só o mundo corporativo que se preocupa em orientar funcionários a se comportarem nas redes sociais. Em uma época em que boa parte das relações de amizade se dá no mundo virtual, professores também precisam estar preparados para interagir adequadamente com seus alunos fora da sala de aula. Para a pedagoga especialista em Tecnologia Educacional Lígia Leite, deve haver limites na relação online entre educadores e suas turmas. "A cada nova tecnologia vêm novos desafios. A pergunta atual é qual o papel do professor nessa era de redes sociais. Hoje, está todo mundo fazendo o que quer, não existe um consenso e deveria existir", diz. No estado de Missouri, nos Estados Unidos, uma barreira nesta relação virtual foi imposta recentemente. A lei número 54, considerada a primeira a regulamentar a interação aluno-professor em redes sociais, entra em vigor no dia 1° de janeiro de 2012. A partir de então, ficarão proibidos registros de amizade no Facebook entre estudantes e educadores. O objetivo é impossibilitar a troca de mensagens privadas via rede social, com o objetivo de prevenir o abuso sexual infantil. Para conversar com os estudantes no site de relacionamento, professores poderão criar páginas públicas. Assim, alunos poderão "curtir" a página e manter contato com o educador transparentemente, aos olhos de todos. 

Além disso, também fica estabelecido que cada escola deve determinar políticas comunicacionais entre estudantes, professores e funcionários. O documento deve tratar do uso apropriado de mídia eletrônica, incluindo sites de relacionamento. Apesar de achar a lei válida e interessante, uma vez que estabelece como deve ser o comportamento profissional do educador na internet, Lígia acredita que tal iniciativa não teria êxito no Brasil. "Pelo menos não com o objetivo de evitar o abuso sexual", explica. 

Também professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Ligia lecionou por anos nos Estados Unidos e conta que, no país, o medo de abuso 
sexual de menores é intenso e, por isso, a relação aluno-professor é muito diferente da que existe no Brasil. "Somos latinos. Aqui a gente se abraça, se toca e tem uma relação de carinho com os alunos. Lá, não. Aqui a lei com esse intuito não faria sentido nenhum, pois esse medo não faz parte da cultura brasileira", diz. A especialista afirma que aqui a iniciativa deveria partir de cada escola. "O professor não deve achar que pode participar das interações sociais do aluno como se fosse outro aluno. A relação pedagógica deve permanecer no meio virtual também. São as instituições de ensino que devem estabelecer essa relação", afirma. Ela destaca, porém, que não significa que o educador não pode ser amigo de aluno, mas que deve continuar agindo como profissional nas redes sociais. "O problema é que esse conceito é complexo, por isso, não pode caber somente ao professor decidir qual a melhor forma de agir. A escola que deveria orientar seus profissionais, assim como já os orienta em suas relações em sala de aula", complementa. 

Família deve orientar comportamento de estudantes na internet - Semíramis Alencar, professora de sociologia no ensino médio de uma escola de Itamonte (MG) mantém relação de amizade com alunos no Facebook e no Orkut. Para ela, a família deveria orientar seus filhos no meio virtual, assim como professores precisam explicar para seus alunos no que consiste sua relação de amizade. "Teoricamente só podem participar das redes sociais pessoas maiores de 18 anos. E isso acontece porque crianças realmente não sabem se proteger. Mas eles participam mesmo assim, e, como professores, não temos como não os aceitar". Apesar de achar que o cuidado deveria partir da família orientando seus filhos e controlando o acesso deles ao meio virtual, Semíramis afirma que cabe também ao professor conversar com os alunos e estabelecer os limites de amizade dessa relação no meio online. Para ela, o educador pode ser amigo, mas sem deixar de ser profissional. "Eu uso Orkut e Facebook para tirar dúvidas e, nessas interações, procuro ser amiga, pois o laço de
confiança é essencial para que o processo de aprendizagem aconteça", opina. 

Professor de geografia de uma rede estadual de ensino em Indaiatuba (SP), Ricardo Pignatelli conversa com estudantes no Facebook, Twitter, MSN e Orkut. Para ele, a interação é de amizade sem deixar de lado seu caráter pedagógico, uma vez que faz uso dessas ferramentas para tirar dúvidas e atualizar os alunos com notícias relacionadas à disciplina. Pignatelli conta que alguns alunos acabam confundido essa relação. "Infelizmente, o Facebook também pode ser uma bela ferramenta de fofocas. Então, o professor deve explicar aos seus alunos em sala de aula que o que ele escreve na rede social é uma opinião própria, e que nem sempre é a opinião da maioria ou dos alunos", diz. Para ele, a criação de uma lei como a do estado americano é sinônimo de censura e cerceamento da liberdade individual de cada um. 

Escola orienta seus professores nas redes sociais - Na Escola Crescer PHD, em Vitória (ES), os professores recebem orientação sobre a forma mais adequada de agir nas redes sociais e principalmente sobre como usar o meio virtual como ferramenta de ensino. Segundo o professor de português, Ricardo Carlos de Souza, a direção promove aulas para que a relação nas redes seja discutida entre todos. De acordo com Souza, as ferramentas online são utilizadas para realizar atividades educacionais, que recebem acompanhamento e autorização prévia da escola. Além disso, antes de aplicar um exercício que faça uso do Twitter ou do Facebook, os professores dão aula presencialmente sobre o meio virtual, na qual o objetivo é explicar a diferença de linguagem utilizada na internet e na sala de aula. Neste ano, todos os professores da instituição começaram a receber treinamento para também fazer uso das redes sociais como um meio de contato com os estudantes fora da escola. A ideia é estar sempre à disposição do aluno para tirar dúvidas, principalmente daqueles em fase de realizar as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de vestibular.
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Ujeverson Tavares Sampaio